Quando pensamos em superdotação ou altas habilidades, a imagem que vem à mente é muitas vezes de desempenho excepcional, sucesso acadêmico ou talentos raros. Contudo, muitas pessoas superdotadas carregam um lado invisível, marcado por desafios emocionais que raramente são vistos ou discutidos. Esse contraste entre brilho visível e sofrimento interno pode gerar dúvidas, culpa ou incompreensão.
O que significa ser superdotado?
Quando falamos de superdotação ou altas habilidades, falamos de pessoas que apresentam desempenho significativamente acima da média em uma ou mais áreas cognitivas, acadêmicas ou criativas. Mas esse rótulo não garante felicidade ou bem-estar emocional. Enquanto algumas pessoas com superdotação ou altas habilidades se adaptam muito bem, outras experimentam pressão interna e externa devido a expectativas exacerbadas e isolamento social.
Os desafios menos visíveis
Estudos recentes apontam que superdotados podem estar mais suscetíveis a condições como perfeccionismo, ansiedade, depressão, comportamentos internalizantes e ideação suicida. Uma pesquisa mostrou que, por trás do alto desempenho intelectual, muitas pessoas superdotadas enfrentam desafios emocionais significativos. Embora essas pessoas apresentem grande capacidade cognitiva, elas também tendem a vivenciar períodos de depressão, oscilações na autoestima e altos níveis de estresse. O estudo concluiu que essa combinação entre sensibilidade emocional e altas expectativas — tanto internas quanto externas — pode gerar um sentimento constante de inadequação, mesmo entre aqueles que parecem “ter tudo sob controle”. Esses achados reforçam a importância de olhar para a superdotação de forma integral.
Por que nem sempre vemos esse sofrimento?
Existem várias razões:
- Expectativas altas externas e internas: os superdotados frequentemente enfrentam pressão para sempre “dar certo”, o que pode aumentar o medo de falhar.
- Comparações e senso de diferença: sentir-se diferente pode gerar isolamento ou dificuldade em encontrar pares com quem compartilhar experiências.
- Alta sensibilidade emocional: muitas vezes pessoas com altas habilidades têm intensidade emocional elevada, o que pode amplificar frustrações ou sentir-se sobrecarregado.
- Desconhecimento ou estigma: admitir que sofre não é fraqueza, mas muitos superdotados relutam em buscar ajuda, por medo de serem mal compreendidos ou rotulados.
Qual o papel da consulta psiquiátrica?
Quando o sofrimento emocional começa a prejudicar o dia a dia — como sono, relacionamentos, autoestima, rendimento escolar ou profissional — é hora de considerar buscar ajuda. Esse é um espaço seguro para:
- Avaliar se há transtornos subjacentes, como os transtornos de ansiedade, depressão ou outros.
- Estabelecer intervenções terapêuticas, possivelmente com psicoterapia e se necessário, medicação.
- Ajudar a pessoa a desenvolver estratégias de regulação emocional, entender pelo o que ela está passando, lidar com expectativas.
Cuidar da saúde mental também significa adotar atitudes práticas no dia a dia. Buscar conhecimento sobre superdotação, emoções e saúde mental é um primeiro passo importante para compreender melhor o próprio funcionamento e acolher as próprias fragilidades. Conversar com profissionais especializados, inclusive por meio de uma consulta psiquiátrica, pode ajudar a identificar estratégias de enfrentamento mais saudáveis. Além disso, cultivar resiliência com atividades físicas, hobbies e conexões sociais fortalece o equilíbrio emocional. Estabelecer expectativas realistas, aprender com os erros e contar com o apoio de amigos, familiares ou outros grupos que compreendam suas singularidades são formas valiosas de tornar essa jornada mais leve e saudável.
E quem convive com superdotados?
Se você é parente, amigo, professor ou parceiro, algumas orientações:
- Ouvir, sem minimizar: reconhecer que pode haver sofrimento, ainda que a pessoa pareça estar “bem’’.
- Validar emoções: não cobrar “força” ou “resistência” como se esse fosse o único caminho possível.
- Incentivar ajuda profissional quando necessário: o papel da consulta psicológica e psiquiátrica pode ser decisivo para oferecer suporte adequado.
- Estar atento aos sinais de alerta: isolamento, perda de interesse, mudanças de humor persistentes, autocrítica intensa ou pensamentos de desesperança.
Conclusão
Diferente do que muitos pensam, a superdotação não garante uma felicidade automática. Como todas as outras pessoas, existem desafios, sensibilidade, expectativas e, por muitas vezes, momentos da vida em que existe um sofrimento importante. Falar sobre isso ajuda a reduzir o estigma e a normalizar a busca por cuidado. Conte com os psiquiatras do Espaço Abra.