Precisamos falar do suicídio, mas do jeito certo.

Efeito Papageno ilustrado em gravura

Efeito Werther e o Efeito Papagenoconteúdo. A forma como falamos sobre o suicídio pode impactar diretamente a vida de pessoas em sofrimento. Conceitos como o Efeito Werther e o Efeito Papageno mostram que a divulgação de casos de suicídio deve ser feita com responsabilidade. Esse artigo explora como abordagens adequadas podem salvar vidas. Existem conceitos que nos dizem como comunicar sobre esse tema de maneira eficaz e empática.


Você já ouviu falar em Efeito Werther e Efeito Papageno na prevenção do suicídio?

Efeito Werther

Em 1774, o escritor alemão Johann Wolfgang Goethe (1749-1832) publicou Os Sofrimentos do Jovem Werther. No romance, Werther tira a própria vida após uma desilusão amorosa. Após o lançamento do livro, ocorreu uma onda de suicídios entre jovens leitores na Europa, o que, inclusive, levou o livro a ser proibido em alguns países.

Em 1974, o sociólogo americano David Phillips cunhou o termo “Efeito Werther”, para nomear o efeito de contágio provocado pela divulgação de um caso de suicídio, a depender de como ele é divulgado. Semelhante situação foi presenciada após a divulgação da morte do ator Robin Williams – com um aumento de 10% no número de casos de suicídio nos cinco meses posteriores – e com o lançamento da série 13 Reasons Why – com um aumento de 13% em norte-americanos de 10 a 19 anos, nos três meses seguintes.

O que não fazer?

Não dê destaque à notícia; evite repetições e atualizações, especialmente em casos que envolvam celebridades; não use a palavra suicídio no título; não divulgue o método utilizado; não divulgue o lugar; não publique fotos; não divulgue cartas ou bilhetes suicidas; não descreva um suicídio como inexplicável, ou sem aviso; não apresente causas; o suicídio nunca deve ser tratado como crime ou caso de polícia; não se deve sugerir que um suicídio possa ser um meio para se resolver algum problema; não falem em epidemia de suicídio; não reduza transtornos mentais a comportamentos “problemáticos” ou a “necessidade de chamar atenção”.

Efeito Papageno:

No século 18, o compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) estreou, em 1791, A Flauta Mágica. Na ópera, Papageno, a exemplo de Werther, também sofre por amor e, por esse motivo, cogita dar fim ao seu sofrimento. No entanto, ao contrário do protagonista de Goethe, é convencido a não tirar a própria vida. Em vez disso, se apaixona por Papagena e dá um novo rumo a sua vida. Em 2010, o pesquisador austríaco Thomas Niederkrotenthaler criou o conceito de Efeito Papageno, para explicar que a divulgação adequada do suicídio na mídia poderia ter efeito protetor.

O que fazer ?

Sensibilizar o público em relação ao tema; informe com discrição; informe telefones úteis e como buscar ajuda; informe sinais de alerta, mas sem prometer uma receita para detectar seguramente uma crise suicida; consulte especialistas em prevenção; respeite o luto; fique atento à linguagem: descreva o óbito como “morto por suicídio”; Destacar os fatores de proteção e alertar sobre os fatores de risco; referir-se ao suicídio como “consumado” e não como “bem-sucedido”; apresentar somente dadosrelevantes em páginas internas, no caso de veículos impressos; destacar as alternativas ao suicídio; “O suicídio precisa deixar de ser tabu. Trazer essa discussão à tona com responsabilidade pode salvar vidas”, pondera Alexandrina Meleiro, coordenadora da Comissão de Estudo e Prevenção ao Suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).




Fontes para aprofundar sobre o tema:

Cartilha “Suicídio. Saber, agir e prevenir” (MInistério da Saúde 2017);

Cartilha Suicídio: Informando para Prevenir (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA, 2014)

Prevenção do Suicídio: Um Manual para Profissionais da Mídia (OMS, 2000);

Como falar de forma segura sobre saúde mental – A internet que a gente faz (Instituto Vita Alere, 2022);

Onde buscar ajuda ?

Se você está passando por sofrimento psíquico ou conhece alguém nessa situação, veja abaixo onde encontrar ajuda:

SUS: Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único

de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais.

Há unidades específicas para crianças e adolescentes. Na cidade de São Paulo, são

33 Caps Infantojuventis e é possível buscar os endereços das unidades nesta

página.

materiais de orientação sobre transtornos mentais.