A Importância do Tratamento Psiquiátrico para Transtornos de Ansiedade

Você já se sentiu ansioso? Você já parou para se perguntar quando, com quem, e por que procurar um tratamento para a sua ansiedade? Quando procurar um psiquiatra? Esses são alguns dos questionamentos muito frequentes, quando o assunto é a ansiedade.

Vamos começar pelo “o que é a ansiedade?”

Ansiedade nada mais é que uma emoção normal e inata de toda e qualquer pessoa. Sim, é normal se sentir ansioso de vez em quando. Sabe aquela sensação de inquietação, você sente que tem que fazer algo, fica preocupado, fica pensando sobre aquela tarefa ainda não concluída, até que você não se aguenta, levanta, vai lá e faz? Isso é ansiedade!

Então por que alguém buscaria ajuda, um tratamento com um  psiquiatra, se a ansiedade é uma emoção normal?

Acontece que ela é normal até um certo nível. É como uma balança. Uma questão de equilíbrio. Enquanto ela está alí, controlada, te deixa um pouco nervoso mas não te atrapalha nas realizações de seus desejos, de seus afazeres, está tudo bem. Ela pode até ajudar, te dando aquele empurrãozinho nas costas que faltava para você colocar a mão na massa. 

Mas quando ela ultrapassa um certo limite, quando a ansiedade começa a te deixar tão nervoso que te deixa “travado”, que te dá aquele “branco” na cabeça, aí ela já está deixando de ser normal. 

Em outras palavras, quando a ansiedade começa a ser exageradamente ativada e manifestar em situações em que isso não deveria acontecer, a ansiedade deixa de ser normal e passa a ser patológica.

Existe a ansiedade normal, e existe a ansiedade patológica, sendo que esta última é composta por diversos transtornos ansiosos, como por exemplo o Transtorno de Ansiedade Social, o Transtorno do Pânico, o Transtorno de Ansiedade Generalizada, dentre outros (vamos nos ater aos principais aqui).

Prevalência da ansiedade

Se você se considera uma pessoa ansiosa, saiba que você não está sozinho. Os transtornos ansiosos representam o grupo de transtornos psiquiátricos de maior prevalência global. 

Estima-se que 4,05% da população global possua alguma forma de transtorno ansioso, de acordo com levantamento realizado em 2019, representando um número absoluto de cerca de 301 milhões de pessoas ao redor de todo o mundo. 

Além dessa prevalência ser a maior no que tange transtornos psiquiátricos, ela também possui curva crescente, tendo aumentado umentada em mais de 55% entre 1990 e 2019.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas: 9,3% da população. Há também um enorme alerta sobre a saúde mental dos brasileiros, já que uma em cada quatro pessoas no país sofrerá com algum transtorno mental ao longo da vida.

Quando aprofundamos o olhar no cenário brasileiro, o país está em segundo lugar mundial de pessoas acometidas por algum tipo de transtorno ansioso, com uma taxa de 7.933 casos a cada 100.000 habitantes. (Isso é muita coisa!) Mulheres representam o grupo populacional mais acometido, com uma relação de 1,66 mulheres acometidas por cada 1 homem acometido. 

Em relação à idade, os transtornos ansiosos começam a se manifestar em torno de 10 anos de idade, apresentando dois picos de incidência ao longo da vida: 

  • Entre 10 e 14 anos de idade.
  • Entre os 35 e 39 anos de idade. 

Nos idosos, apesar de se observar diminuição do surgimento de novos casos, observa-se manutenção dos casos já existentes, representando um grupo com alta prevalência e que também merece especial atenção.

Sobre os sintomas de ansiedade

Os sintomas ansiosos podem ser divididos em quatro grupos de manifestações principais: 

  • Sintomas ansiosos que envolvem esferas intelectuais: pensamentos, preocupações antecipatórias, medo, hipervigilância, distraibilidade, pensamento acelerado.
  • Sintomas ansiosos que envolvem esferas emocionais: carga emocional negativa, incômodo, desprazer, angústia, irritabilidade.
  • Sintomas ansiosos que envolvem esferas somáticas (manifestações físicas da ansiedade): taquicardia, respiração acelerada, tremores, tensão muscular, sudorese.
  • Sintomas ansiosos que envolvem  esferas comportamentais: comportamento de esquiva, como evitar atividades e/ou objetos que suscitam a ansiedade, busca por formas variadas de diminuir a ansiedade (como uso de medicamentos por conta própria e/ou outras substâncias).

Principais sintomas ansiosos

  • Agitação
  • Apreensão quanto ao futuro
  • Apreensão quanto ao presente
  • Boca seca
  • Cefaléia
  • Choro fácil
  • Contrações musculares involuntárias
  • Dificuldade de concentração
  • Dificuldade de lembrar das coisas
  • Dores musculares
  • Dor no peito
  • Fadiga
  • Ficar enjoado
  • Incapacidade de relaxar (aquela sensação de estar em alerta o tempo todo)
  • Inquietação
  • Insônia (dificuldade de iniciar o sono, sono interrompido, “acordar cansado”, pesadelos, terror noturno, etc, etc)
  • Irritabilidade
  • Maus pressentimentos
  • Medo (dos mais variados como medo do escuro, de lidar com estranhos, de animais, de locais muitas pessoas, etc, etc)
  • Tontura
  • Tremores
  • Maus pressentimentos
  • Medo (dos mais variados como medo do escuro, de lidar com estranhos, de animais, de locais muitas pessoas, etc, etc)
  • Palidez
  • Palpitações (aquela sensação de que o coração está batendo mais forte e rápido)
  • Perda do apetite
  • Ranger os dentes
  • Reações de sobressalto (leia-se “assustar com facilidade”)
  • Rigidez muscular
  • Sensação de cansaço
  • Sensação de desmaio
  • Sensação de dificuldade de respirar
  • Sensação de estar “sufocando”
  • Sensação de falta de ar
  • Sensação de formigamento
  • Sensação de ondas de calor ou de frio
  • Sensação de ouvir ruídos ou zumbidos
  • Sensação de queimação na barriga
  • Sensação tensão
  • Taquicardia
  • Temor de que algo ruim irá acontecer
  • Visão borrada

Tipos de Transtornos Ansiosos

Agora que já sabemos quais são os principais sintomas de ansiedade, que tal a gente falar sobre os Transtornos Ansiosos?

O que define um transtorno ansioso? Para que seja considerado um diagnóstico de transtorno ansioso é fundamental que alguns critérios sejam observados: intensidade, curso, duração, e grau de acometimento. 

Para qualquer que seja o transtorno ansioso, é importante que a reação de medo ou ansiedade seja desproporcional às situações de exposição; gerem sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas do indivíduo; apresentem duração prolongada e persistente, geralmente de meses; e não seja decorrente de outra doença.

Transtorno de Ansiedade Social

O transtorno de ansiedade social (também chamado de Fobia Social) é caracterizado por um medo e/ou ansiedade acentuada na lida com uma ou mais situações sociais, em que o indivíduo é exposto ao olhar de outras pessoas. 

Sabe aquela pessoa que vive com medo do que os outros estão pensando sobre ela e acaba deixando de fazer suas atividades? É mais ou menos por aí. O indivíduo sente um desconforto exagerado ao manter uma conversa,  ao encontrar pessoas não familiares, ao ser observado em situações em que tem de desempenhar uma atividade (como por exemplo a apresentação de trabalhos acadêmicos).

Pessoas acometidas pelo transtorno de ansiedade social possuem muito medo de apresentarem, ao serem expostas a tais situações, reações de forma que demonstrem sintomas ansiosos (como por exemplo trocar as palavras, gaguejar, ruborizar, tremer, etc). 

O medo é que suas reações ansiosas sejam avaliadas negativamente. O resultado é que elas sentem mais e mais ansiedade tanto previamente às exposições, quanto durante as exposições. A ansiedade pode chegar a níveis tão altos e insuportáveis que a pessoa pode simplesmente travar e não conseguir ter nenhuma reação ou atitude, chorar, ou até mesmo apresentar ataques de raiva. 

Devido a isso, acabam por tomar comportamentos de esquiva, de evitação de situações sociais, ou até mesmo tentativas de amenização de tais ansiedades de formas prejudiciais. (Um exemplo é o indivíduo que quer comparecer a um evento social, como uma festa de um familiar, e que faz uso de bebida alcoólica antes, em uma tentativa tortuosa e disfuncional de amenizar a ansiedade).

Devemos diferenciar o transtorno de ansiedade social da timidez normal. A timidez se caracteriza mais como um traço de personalidade e não é por si só patológica, não gerando prejuízos significativos para o indivíduo, assim como não deve ser considerada como um traço negativo ou disfuncional.

Transtorno de Pânico

O transtorno de pânico é caracterizado por episódios recorrentes e inesperados de ataques de pânico. E o que é um ataque de pânico? O ataque de pânico é caracterizado por um surto abrupto de medo intenso, um desconforto intenso, que atinge uma intensidade alta em questão de minutos, sendo acompanhado tanto de sintomas ansiosos físicos quanto cognitivos.

Como exemplos podemos citar palpitações, sudorese, tremores, sensação de falta de ar ou de sufocamento, dor no peito, náusea, desconforto gástrico, tontura, calafrios, formigamentos, medo intenso de morrer, entre outros).

Imagine a seguinte situação. Você está tranquilo, fazendo compras da semana no mercado perto de sua casa, pegou tudo o que precisava e entrou na fila do caixa para pagar e ir embora. De repente você começa a se sentir inquieto. 

Você não encontra motivo algum para isso mas, começa a sentir medo, muito medo de que algo ruim vai acontecer, e isso vai piorando até que você sente que pode morrer a qualquer momento. Suas mãos começam a formigar, elas estão suando. 

Você sente o seu coração batendo rápido, e muito forte. Você começa a sentir uma dor no peito e falta de ar. Você tenta ficar ali só mais um pouquinho para pagar pelas compras e sair, mas não consegue. Deixa tudo alí mesmo e vai correndo para casa. E isso tudo aconteceu em questão de pouquíssimos minutos. 

Esse é um exemplo de ataque de pânico. (É importante observar que esse é apenas um exemplo, simplificado, de ataque de pânico, mas os ataques podem ocorrer de diversas outras formas, sendo essencial a avaliação clínica por um psiquiatra para a sua devida identificação e caracterização).

No transtorno de pânico esses ataques ocorrem de forma recorrentes, e como se isso não bastasse, a pessoa começa a ficar constantemente preocupada com a possibilidade de vir a ter novos ataques (algumas pessoas chegam a relatar medo de “enlouquecer” em consequência de tais ataques). 

Assim passa a tomar comportamentos de esquiva, de forma a tentar evitar a ocorrência de novos ataques (no caso do exemplo acima, a pessoa pode passar a evitar ir ao mercado). 

Esses comportamentos geralmente são desadaptativos, de forma que geram prejuízos significativos para o indivíduo, limitando o seu convívio social e desempenho profissional.

Transtorno de Ansiedade Generalizada

O transtorno de ansiedade generalizada é caracterizado por uma ansiedade e preocupações excessivas, que ocorrem de forma quase diária, envolvendo as diversas esferas da vida daquele indivíduo. 

O indivíduo com transtorno de ansiedade generalizada possui intensa ansiedade antecipatória, isto é, a todo momento está apreensivo, superestimando os riscos envolvidos, e antecipando os desfechos negativos ou prejudiciais (é como se ela estivesse sempre antecipando que tudo vai dar errado e da pior maneira possível). 

A preocupação, e a consequente angústia, é tamanha que ele passa a tomar inúmeras medidas e comportamentos associados à prevenção e esquiva desses riscos e desfechos negativos. 

Nesses indivíduos, os comportamentos antecipatórios e de esquiva passam a tomar papel central em seu cotidiano, de forma a passar muito mais tempo neles que em outros repertórios comportamentais normais do cotidiano.

Pessoas com transtorno de ansiedade generalizada possuem maior dificuldade em controlar tais preocupações, assim como percebem tais ansiedades e preocupações de forma muito mais angustiantes. 

Além disso, a ansiedade e a preocupação se associam a inúmeros sintomas ansiosos tais como inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele, fadiga, dificuldade em se concentrar, sensação de “branco” na mente, irritabilidade, e dificuldades relacionadas ao sono.

O que diferencia a ansiedade normal da ansiedade patológica do transtorno de ansiedade generalizada é a intensidade, frequência, e duração. Um indivíduo com ansiedade normal consegue, por exemplo, adiar uma tarefa que é foco de tais preocupações (quando há outra tarefa a ser desempenhada primeiro). 

Enquanto um indivíduo com ansiedade patológica do transtorno de ansiedade generalizada deixa de fazer outros afazeres essenciais e mais urgentes, pois não consegue se desligar do foco da preocupação daquele momento. 

O transtorno de ansiedade generalizada traz uma série de consequências funcionais para os indivíduos acometidos. A preocupação excessiva prejudica a capacidade do indivíduo de fazer as coisas de forma rápida e eficiente, seja qual for o ambiente em que ele se encontra, assim como gera esgotamento, pois as preocupações excessivas tomam tempo e energia.

Como a Psiquiatria Pode Ajudar

Afinal, qual é o papel do Psiquiatra? 

O Psiquiatra é um médico especializado nos cuidados da saúde mental. Seu papel é compreender, diagnosticar, tratar e prevenir os transtornos psiquiátricos, possuindo um conhecimento aprofundado sobre como funciona a mente e o emocional humano.

Diagnóstico

O primeiro ponto em que o médico psiquiatra pode ajudar é na avaliação minuciosa do seu caso, examinar as suas particularidades, de forma a entender o que está gerando o prejuízo ou sofrimento, realizando assim o seu devido diagnóstico.

O  diagnóstico é feito com base na avaliação clínica, com a realização do exame psíquico, e inclui a identificação do transtorno psiquiátrico envolvido, a sua gravidade, o grau de acometimento, assim como suas particularidades, de forma a ser possível a proposta de um tratamento personalizado, voltado para as suas necessidades.

O diagnóstico correto e precoce é de suma importância para definição da modalidade do tratamento. Quanto antes a intervenção for feita, de forma assertiva, melhor tende ser a sua eficácia (transtornos ansiosos não tratados e de longa duração, podem evoluir para formas cronificadas e de mais difícil controle, a depender do caso).

Tratamento

O principal objetivo do tratamento é ajudar você a recuperar a sua qualidade de vida. Como vimos acima, os transtornos ansiosos geram muita angústia, sofrimento, e prejuízo nas diversas áreas da vida de um indivíduo (seja na esfera social, na esfera profissional, ou em outras). 

Não é fácil, e nem mesmo saudável, viver sob constante estresse ou tensão. O indivíduo com transtorno de ansiedade vive em alerta. É como se a todo momento estivesse lidando com situações de vida ou morte. 

Note que o objetivo não é sumir com a ansiedade. Lembra que falamos da “balança” lá no início? O nosso objetivo é equilibrar essa balança. Ajudar você a conseguir viver em paz, sentindo as suas emoções, sim, porém em suas devidas proporções, sem ficar sofrendo de forma desnecessária.

Conclusão

Se você se identificou com algum dos quadros ou sintomas descritos, ou tenha ficado com alguma dúvida; não sofra sozinho, procure a ajuda de um profissional qualificado, experiente e especializado. 

A ansiedade tem tratamento. Cada caso é único e existem diversas abordagens possíveis, e que são de comprovada eficácia Priorize sempre a sua saúde mental e o seu bem-estar.